Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2018, acaba a travessia do inferno para mim. Deixo para trás a porta do Estabelecimento Prisional de “Ébola” sem qualquer sinal de cifose, lordose ou escoliose porque nunca verguei, nunca passei sob o jugo imposto.
Na mesma data, após contacto com Henrique Machado, jornalista do “Correio da Manhã” (CM), presentemente elemento da CNN / TVI, responsável por muito da prática ansiogénica da comunicação social nacional, um reconhecido e conhecido protagonista da ilusão da profundidade explicativa na área da Justiça, publica no CM, edição digital, a notícia da libertação de João De Sousa que nunca assumiu o crime de corrupção, mas que, apesar deste facto, o Juiz e restantes entidades envolvidas no tratamento prisional do mesmo deram pareceres favoráveis para a sua libertação.
O jornalista do CM termina o apontamento jornalístico com uma declaração minha (de facto por mim prestada):
“Vou agora avançar com o doutoramento sobre a aplicabilidade real do código de execução de penas na vida dos reclusos e auxiliar com a experiência que tenho dos dois lados das grades ao melhoramento da instituição Polícia Judiciária.” (João De Sousa dixit)
Na altura, forte comoção e avassaladora indignação causaram as minhas palavras no seio da Polícia Judiciária.
Ouvia-se amiúde: “como se atreve este pária, este ex-condenado, esta célula nefasta do nosso organismo atempadamente eliminada, este Coriolano (talvez esta última seja liberdade da minha escrita, pois poucos são aqueles que leem Shakespeare) ousar afirmar que vai auxiliar a Polícia Judiciária a melhorar procedimentos, conhecimentos ou práticas investigatórias? Depois de tudo ainda está a provocar? A ser irónico?”
Acreditem que não estava a ser irónico, nem tentava provocar.
François Bluche, no seu ensaio de 2003 sobre Armand Jean du Plessis, mais conhecido por Cardeal Richelieu (1585-1642), escreveu sobre este, em tom admoestatório: “A inteligência irrita os imbecis. Há que ter o cuidado de fazer dela instrumento de conquista e sedução e não de superioridade e provocação, coisa que o Eminentíssimo se esquece de vez em quando!” (Richelieu, François Bluche, 2005, Publicações Europa América)
Mandei fazer o quadro que acompanha este parágrafo, colocando a frase de François Bluche e um pequeno espelho para que cada vez que a leio veja a minha imagem reflectida...
Como podem verificar eu não desejei provocar ninguém, nem estava a ser irónico, eu respeito quem é muito mais inteligente do que eu, assim como tenho o máximo respeito pelos imbecis (são muitos e têm tendência a unir-se e a ocupar lugares de poder) portanto, só queria auxiliar a Polícia Judiciária.
Como é que podia e pode auxiliar a P.J.? Questiona o inteligente Leitor(a) e os imbecis que não confessando o seu pecado capital, não deixam de passar por aqui e ler.
Auxilio através do saudável exercício da COOPERAÇÃO ADVERSARIAL!
Os imbecis já abandonaram a leitura porque não querem nem vão perceber, mas o meu Estimado(a) Leitor(a) sei que vai dispensar mais uns minutos do seu tempo.
Da obra de Steven Pinker, O Iluminismo agora, 2018, Editorial Presença: “(...) Os próprios cientistas têm insistido numa nova estratégia chamada cooperação adversarial, onde inimigos mortais trabalham em conjunto para aprofundarem uma questão, realizando testes empíricos que previamente acordaram para resolver o seu diferendo. (...)”
Mellers, Hertwig e Kahneman em 2001 já falavam sobre esta temática: cooperação adversarial.
O que é que eu tenho feito desde 2018, o que é que a “Eppur si – Consultoria, Análise e Formação Forense, Lda.” faz?
Saudável e desejável Cooperação Adversarial!
E foi com este objectivo, o melhoramento da Polícia Judiciária após elementos da mesma falsificarem provas no “Caso do Tiro da Banheira na Casa de Rosa Grilo”, que eu, João De Sousa, ex-Inspector da P.J., ex-recluso de “Ébola”, actualmente Consultor Forense, CEO & Founding Partner da “Eppur si – Consultoria, Análise e Formação Forense, Lda.”, entrou em contacto com a Polícia Judiciária no dia 3 de Fevereiro deste ano, imediatamente após sair da sessão do meu julgamento – processo-crime n.º 3/20.9 GCVFX – tendo solicitado falar com o Director-adjunto da Polícia Judiciária, Dr. Carlos Farinha, o que logrei fazer, tendo este dito, via telemóvel, que na terça-feira seguinte, 7 de Fevereiro de 2023, teria todo o gosto em receber-me, conquanto aquilo que estava em questão – a falsificação de provas por parte da P.J. com o objectivo de condenar dois inocentes – fosse um assunto que aos dois, a mim e ao Sr. Director-adjunto da P.J., Dr. Carlos Farinha, causava grande tristeza e preocupação.
Este contacto não surge inopinadamente, todo o efeito tem uma causa.
No dia 20 de Janeiro de 2023, sexta-feira, realizou-se no Auditório da Autoridade Tributária e Aduaneira, no Parque das Nações, Lisboa, o VIII Seminário sobre Violência Doméstica. A “Eppur si” marcou presença no evento.
Durante um dos intervalos, aquando da dança da “fogueira das vaidades”, entre salgadinhos e bolinhos, após ter ido mictar, o Sr. Director-adjunto da P.J., Dr. Carlos Farinha, colocado estrategicamente junto à escadaria que conduzia ao auditório do evento, acompanhado pela Prof.ª Cristina Soeiro, alcança o meu antebraço direito quando eu passava por si, interpelando-me. Sorte a dele porque eu tenho uma disciplina férrea no que diz respeito à higienização das mãos após a micção.
A piada foi rápida e simples:
“Não me diga que vai ser outra vez?” – eu, falsamente surpreendido.
“Não, sossegue, não o vou prender!” – com o habitual “sorriso-100%-músculo-zigomático”.
Entre falsos sorrisos – pelo menos os meus – e prosódia dolosamente assumida, o Sr. Director-adjunto, Dr. Carlos Farinha garantiu que sempre iria falar comigo, sempre estaria disponível para conversar!
Sabendo eu, desde o dia 19 de janeiro de 2023, que elementos da P.J. falsificaram provas no “Caso do Tiro na Banheira”, foi muito fácil executar “d4 c4”, seguido de “c4 dxC4” e, sussurrando ao ouvido do Sr. Dr. Carlos Farinha, avancei:
“Muito em breve terei necessidade de falar com o Sr. Dr., mas o que terei de falar é muito triste e grave. Lamento, mas vai ter de ser, até porque o Sr. Dr. disse agora mesmo que sempre falaria comigo!”
A despedida foi alegre, urbana e cortês, exactamente como Mario Puzo descreve no seu livro O quarto Kennedy: “(...) Foram-se embora com as manifestações de boa vontade e afecto que fazem parte das boas maneiras políticas desde o assassinato de Júlio César. (...)”. Um génio, este Mário Puzo!
Muito bem, estava tudo a correr surpreendentemente bem: cooperação adversarial, um alto quadro da Polícia Judiciária a garantir um encontro para falarmos sobre uma questão gravíssima (na ocasião em que falámos ao telefone eu relatei ao Sr. Director-adjunto, Dr. Carlos Farinha a existência da prova da falsificação e o facto de ter apresentado uma queixa-crime na Procuradoria-geral da República).
Claro que, como era expectável, o Sr. Director-adjunto, Dr. Carlos Farinha, não recebeu o João De Sousa e eu continuo, como Diógenes de Sínope, à procura de um homem intelectualmente honesto entre aqueles que fazem parte da Direcção da Polícia Judiciária!
Nem sequer deixou que eu concretizasse a “Final de Phillidor”.
François-André Danican Phillidor (1726-1795), compositor, mestre de xadrez, autor da célebre frase do universo do nobre jogo: “os peões são a alma do Xadrez”.
Abri com um Gambito de Dama e “eles” não permitem que eu termine o jogo, fogem, viram o tabuleiro. Não deixam o pequeno peão vencer!
“A coerência é o apanágio das mentes obtusas” (Yuval Noah Harari, Sapiens, animais e deuses, 2013, Editora Elsinore)
Estavam à espera do quê? Como poderia ser diferente agora, quando a Polícia Judiciária nem sequer se deslocou à casa da Sra. Rosa Grilo no dia em que o ex-elemento da “Casa”, João De Sousa, encontrou o “tiro na banheira”?
Gaston Bachelard afirmou-o: “A Verdade nunca é mais do que um erro corrigido.” Acrescentando ainda que o Sábio é aquele que sabe reconhecer o seu erro inicial e tem a força para o corrigir.
Acrescento eu: o Sábio de Bachelard só existe se o indivíduo reunir em si a coragem intelectual para reconhecer o seu erro.
E esta gentalha não é corajosa!
Comportam-se todos como a Struthio camelus, a infeliz Avestruz.
Enterram a cabeça na areia e nem sequer se apercebem que nessa posição colocam em perigo a integridade dos tecidos da cloaca, podendo ter, como consequência directa do seu comportamento, a eversão permanente e persistente do orifício em apreço!
E como é sabido, “o sucesso do tratamento dos prolapsos da cloaca depende muito da detecção precoce e tratamento adequado do prolapso em si e/ou das causas subjacentes”.
Apenas tentei que a instituição Polícia Judiciária detectasse precocemente o problema, tratasse com sucesso a maleita, mas, infelizmente, reiteraram no erro enterrando a cabeça na areia, expondo a cloaca a graves prejuízos.
Lamento profundamente tudo isto, lamento a imagética escolhida e associada ao texto, mas, em minha defesa, até as mais altas e santas mentes recorreram à metáfora escatológica. Observem o exemplo de Aurélio Agostinho de Hipona (354 -430), Sto. Agostinho, o mais importante dos Padres da Igreja.
“Escutem” as doutas palavras de Sto. Agostinho que subscrevo na totalidade e, ousadamente, aproprio-me das mesmas para ilustrar o alerta que tentei ofertar e a intenção subjacente ao acto quando contactei o Sr. Director-adjunto da Polícia Judiciária, Dr. Carlos Farinha:
“(...) O esterco fora do seu lugar suja a casa, e posto no seu lugar fertiliza o campo. (...)”
Há alturas em que as instituições estão em causa, fruto dos seus desleixos, irresponsabilidade e inaptidão.
Há alturas em que surge alguém capaz de combater o que acima refiro e provocar, por vezes, a reflexão interna sobre o caminho que têm trilhado mal...
Nós, todos, precisamos de justiça apoiada em capacidade científica, boa investigação e clareza de intenções.
Que não se perca tempo a desrespeitar a ética profissional e se destaque a dignidade de cada um e de todos (nós, cidadãos, incluídos).
Mais uma vez, grandiloquente e sagaz. Que todos aqueles que se escondem sob a capa da mentira vil e da incompetência - também a comunicação social a soldo - sejam severamente punidos. Este país precisa de mais autores deste jaez, destemidos e pugnando pela verdade nua e crua, sem subterfúgios. Grande abraço e continua o bom trabalho. Em breve terás mais para matéria para consubstanciar a tua tese, designadamente no âmbito de falsificação de perícias.
Magnifico. Um abraço do tamanho do mundo.
Meu caro Amicci
Muitos vêem o que escreves e falas, mas poucos dão a cara.
É o Mundo que temos atrás das Redes Sociais, muito homens atrás do teclado.
Se até nos defendemos quando nos atacam , tendo o inimigo razão, imaginem quando Nós temos a consciência limpa.
Sem tomates não há Glória!
Aquele Abraço
Filipe Estácio da Veiga