"Apolo e Mársias" (1660), Luca Giodano (1634-1705)
A imagem principal que ilustra este opúsculo, é a da obra do século XVII, “Apolo e Mársias”, de Luca Giordano (1634 – 1705), pintor barroco italiano, encontrando-se patente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, parte da exposição temporária “O Belo, a Sedução e a Partilha: Obras da Coleção Maria e João Cortez de Lobão”, (Piso 1 - Sala 49: Galeria de pintura europeia, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
Vou resumir o mito pela pena de alguém muito mais conhecedor do que eu. Robert Graves (1895 – 1985), o autor do extraordinário “I, Claudius” (1934), e também da obra “Os mitos gregos” (1955), editada em Portugal pela D. Quixote, tradução de Fernanda Branco (1990), a obra que nos interessa agora.
Conforme nos deixou Graves: “(...) Passados tempos, Apolo matou o sátiro Mársias, um dos que seguiam a deusa Cíbele. (...) Ora Mársias foi a vítima inocente de tal maldição. Tropeçou na flauta, e mal a tinha apoiado nos lábios, recordando a música de Atena a flauta pôs-se a tocá-la sozinha. E assim prosseguiu Mársias através de toda a Frígia, através de Cibele, fazendo as delícias dos camponeses ignorantes que cruzava no caminho. Clamavam estes que nem o próprio Apolo seria capaz de tocar melhor, a sua lira, e Mársias era louco bastante para ter caído na imprudência de nem sequer os contradizer. Isto provocou, evidentemente, a cólera de Apolo, que o desafiou para um concurso: aquele que vencesse teria o direito de infligir ao vencido o castigo que mais lhe agradasse (...)”
O bolt é nosso.
O resto da história é por todos conhecida: o deus Apolo, deus da Música, venceu Mársias e o castigo que aplicou foi esfolá-lo vivo, após pendurá-lo numa árvore!
O que muitos possivelmente desconhecem é que Apolo venceu porque recorreu ao ardil, ao engano.
Socorrendo-nos novamente de Robert Graves: “(...) Encaminhava-se a competição para o empate dos dois concorrentes, já que às Musas tanto agradava o instrumento de um como de outro, quando Apolo sugeriu a Mársias: << Desafio-te para fazeres com o teu instrumento o mesmo que eu faço com o meu. Vira-o de pernas para o ar, e toca e canta ao mesmo tempo.>>
Tal truque, no caso da flauta, era manifestamente impossível, perdendo Mársias portanto o desafio, ao passo que Apolo, invertendo a lira, entoou uns hinos tão belos em honra dos deuses do Olimpo, que o mínimo que as Musas puderam fazer foi dar-lhe a vitória. (...)”
Novamente: o bolt é nosso.
Qual é a mensagem deste Mito?
Trata-se, notoriamente, de uma declaração dos gregos: os nossos deuses são superiores. Apolo é superior a Cíbele, a cultura grega (lira de Apolo) supera, sempre, a cultura da Ásia Menor (a flauta de Mársias).
Podemos também extrair um ensinamento moral, um apelo ao comportamento virtuoso, uma admoestação e aviso para todos aqueles que são reféns da “húbrís” (conceito grego que se refere à confiança excessiva, o orgulho desmesurado, a presunção do próprio, a insolência contra os deuses).
Joaquim Caetano, Director do MNAA, hoje, na RTP 1, programa “Bom dia Portugal Fim de Semana”, explicava, referindo-se à obra em apreço: “(...) Tinha uma leitura política muito concreta no século XVII que era, quem se atrevia, quem de baixa extracção se atrevia a desafiar os deuses, os poderosos, tinha um castigo enorme! (...)”
A pergunta de quem agora dispensa um pouco de atenção a este texto, o que agradeço: “E o que é que Mársias tem a ver com o João De Sousa?”
Tudo, até o facto de ter sido, em 2014, esfolado vivo! Mas recentremo-nos em 2023.
Também eu desafiei o Poder e os poderosos quando por diversas vezes, em vários momentos do tempo e nos mais variados púlpitos afirmava (como ainda afirmo) que a Polícia Judiciária não é uma polícia científica e, infelizmente, não sendo alvo de escrutínio, não se deixando escrutinar, ocultando e negando os seus erros, é a variável mais nefasta na equação da Justiça proba e idónea.
Também eu, à semelhança de Mársias, fui vítima da minha “húbris”, do meu orgulho, da minha vaidade e, mais importante e decisivo para o esfolamento realizado entre 2014 e 2018, fui vítima da minha ingenuidade quando acreditei que aqueles a quem eu (de forma intelectualmente honesta) apresentava crítica construtiva, realizassem o saudável exercício de autoscopia, anulando as lacunas, corrigindo o erro, logrando desta forma alcançar mais e melhor.
Como Mársias, toquei alegremente a minha flauta, de forma altiva, com a harmonia mais bela e o sopro mais potente, mas fruto do ardil e da mediocridade daqueles que tapavam os seus ouvidos por não lhes agradar a melodia acutilante que escutavam, fui esfolado vivo!
Presentemente, quiçá graças à deusa Fortuna, aquela que protege os audazes, consegui revelar o ardil de Apolo.
Alcancei o que Mársias não logrou obter: a revelação do ardil, a exposição pública da incapacidade da instituição Polícia Judiciária e do Ministério Público de se conduzirem de forma capaz, ética e idónea.
Nova tentativa de esfolamento foi ensaiada em 2020.
Três anos depois, estou a ser julgado porque os meus ex-colegas da Polícia Judiciária, aqueles que os ouvidos tapavam para não escutarem a mensagem da minha flauta, falsificaram provas.
Tudo isto porque eu mantive o atrevimento de desafiar a instituição P.J. e todo o aparelho da Justiça portuguesa.
Eu, o de baixa extracção, o pária que foi condenado, um autêntico Coriolano!
Eu, que denegri a imagem da Polícia Judiciária porque fui condenado pela prática do mais vil dos crimes que um funcionário público pode praticar: Corrupção.
Eu, o único cidadão português que fui condenado pela prática de um crime de corrupção na forma de uma vantagem patrimonial futura! (como eu fui esfolado vivo, como eu entendo Mársias)
“Eles” tentaram de novo. Tentaram enganar as Musas – Ministério Público e os Juízes – vendo-se perante o erro, perante a derrota anunciada, colocados perante o espelho que posicionei à frente “deles”, viram reflectida a sua imagem: mediocridade, incompetência, acção criminosa!
As “Musas” quase que caíam no ardil, por pouco não foram enganadas, mas algumas delas – Ministério Público, fase de Inquérito – colaboraram no engano.
A analogia do meu caso, da minha pessoa, com o Mito de Mársias, reconheço, não é perfeita.
Ao contrário de Mársias, eu não tropecei na flauta, nem a flauta tocou sozinha criando a errónea convicção em mim de que a melodia que a mesma emanava era da minha autoria, do meu talento e capacidade (como foi no caso de Mársias).
Nada disso. Eu construí a flauta e toquei-a intencionalmente. Escrutinei o meu trabalho e o trabalho dos meus pares e superiores hierárquicos enquanto servi na Polícia Judiciária.
Critiquei, sempre com o propósito de se fazer mais e melhor, o Ministério Público, Juízes, Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, Laboratório de Polícia Cientifica da P.J., os órgãos de comunicação social nacionais, os “comentaristas” e outros energúmenos que por aí medram, à semelhança dos fungos que são causadores de doenças graves (Ignorância) após procurarem insidiosamente os locais quentes e húmidos do corpo humano para se abrigarem, os mesmos locais de que o organismo se serve para eliminar as fezes e os gases intestinais.
Tudo o que fiz e disse foi com dolo, mas nunca pratiquei os crimes pelos quais me esfolaram vivo ou pelos quais desejavam de novo arrancar-me a pele.
Já “eles”, a gentalha, os medíocres, como Apolo socorreram-se do engano e do ardil, mas como não tinham a inteligência do deus da Música, como nunca souberam tocar os instrumentos que a Ciência e a Ética colocou ao seu dispor, foram desmascarados.
Grato pela atenção dispensada.
P.S. – não percam a exposição patente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Não façam como esta “gentalha “, desta parte da P.J., que não visitam museus e acham que o Mársias é uma possível contratação futura de um dos três grandes do futebol nacional!
Grato pelo texto e pelo que transmite. Muito Difícil, esse percurso neste País.
Lamento toda essa dificuldade, e reconheço, pois sou expatriado desde os 3 anos de idade, e em nenhum momento encontrei qualquer facilidade para existir.
Bem Haja